A estratégia da Hypera (HYPE3) para melhorar sua saúde financeira não agradou os investidores, que reagiram de forma negativa nesta segunda-feira (21). As ações da farmacêutica sofreram uma queda expressiva na Bolsa, chegando a despencar 17% antes de entrarem em leilão devido à oscilação máxima permitida. Por volta das 11h17, os papéis já acumulavam uma queda de 15%, sendo negociados a R$ 21,82. No acumulado do ano, a desvalorização chega a 37%, com a empresa sendo avaliada em aproximadamente R$ 13,9 bilhões.
O mercado reagiu com preocupação à nova estratégia da Hypera, que inclui a otimização de capital de giro e a suspensão das projeções financeiras (guidance) para 2024. Essa mudança levou o Itaú BBA a rebaixar a recomendação das ações HYPE3 de “outperform” (compra) para “market perform” (neutra), além de reduzir o preço-alvo para o final de 2025 de R$ 37 para R$ 29, representando um potencial de valorização de 12,9% em relação ao último fechamento. XP Investimentos, Goldman Sachs e BTG Pactual também mantiveram uma postura neutra em relação aos papéis.
Principais mudanças no plano da Hypera
A Hypera anunciou uma estratégia de otimização de capital de giro, que envolve a redução dos prazos de pagamento oferecidos aos clientes. A empresa espera gerar até R$ 2,5 bilhões em caixa operacional até 2028 e R$ 7,5 bilhões em um horizonte de 10 anos. O objetivo dessa medida é aumentar a flexibilidade financeira e melhorar a eficiência operacional, permitindo à companhia aproveitar melhor as oportunidades de crescimento.
Essa otimização deve ser concluída até o quarto trimestre de 2025, o que tornaria 2026 o primeiro ano completo sob a nova estratégia. Além disso, a empresa suspendeu suas projeções financeiras para 2024, que até então previam:
- Receita líquida de R$ 8,6 bilhões.
- Ebitda ajustado das operações continuadas de R$ 3 bilhões.
- Lucro líquido das operações continuadas de R$ 1,85 bilhão.
Além disso, a Hypera anunciou um programa de recompra de até 30 milhões de ações.
Reação dos analistas
De acordo com o Itaú BBA, a antecipação na redução significativa do “sell-in” (venda para farmácias e clientes empresariais) deve impactar a empresa no curto prazo, gerando efeitos negativos no Ebitda e no lucro líquido até o segundo trimestre de 2025. O banco revisou suas estimativas para 2024, prevendo uma redução de 3,2 pontos percentuais na margem Ebitda, resultando em uma queda de 20% no Ebitda projetado. Para 2025, a previsão de receita líquida foi reduzida em 12%, e as estimativas de Ebitda e lucro líquido caíram 21% e 31%, respectivamente.
Os analistas apontam que essa mudança inesperada pressionou as previsões da empresa para 2024 e 2025, com o mercado reagindo de forma cautelosa. “Apesar das características de longo prazo da Hypera ainda serem atraentes, os investidores estão adotando uma abordagem mais conservadora no curto prazo”, afirma o relatório do Itaú BBA.
Perspectivas para o curto prazo
A XP Investimentos classificou a decisão da Hypera como uma “solução radical” para o problema de conversão de caixa. Segundo os analistas, a expectativa era que o problema fosse resolvido sem mudanças substanciais nas políticas comerciais da empresa. O impacto negativo esperado afetará diretamente a receita, o Ebitda e os lucros da companhia, até mesmo em períodos futuros.
O Goldman Sachs também considerou os anúncios desfavoráveis para as ações da Hypera. O banco já havia manifestado ceticismo em relação à capacidade da empresa de entregar suas projeções para 2024, uma das razões para o rebaixamento da recomendação das ações em agosto. O banco agora estima uma redução de 30% no Ebitda do terceiro trimestre de 2024 em relação ao consenso de mercado, além de cortar em 21% as projeções de lucro líquido para 2025.
Avaliação do BTG Pactual
O BTG Pactual reforçou a visão de que a Hypera enfrenta “tempos desafiadores”. O banco observou que os números preliminares do terceiro trimestre indicam um risco significativo de queda nas expectativas do mercado. Segundo os dados divulgados, a Hypera teve um lucro líquido de R$ 370 milhões entre julho e setembro, com uma receita líquida de R$ 1,9 bilhão e um Ebitda de R$ 561 milhões no mesmo período.
O BTG também destacou que as expectativas para o quarto trimestre estão em risco e manteve uma postura neutra em relação às ações HYPE3 devido ao “momento ainda fraco dos lucros, ao ambiente competitivo acirrado e às incertezas regulatórias”.
Conclusão
A Hypera enfrenta um cenário desafiador com a implementação de sua nova estratégia financeira, que visa otimizar o capital de giro e aumentar a geração de caixa a longo prazo. No entanto, a suspensão das projeções financeiras e os impactos imediatos nas receitas e nos lucros geraram uma forte reação negativa no mercado, com analistas adotando uma postura cautelosa em relação ao desempenho das ações no curto prazo.